terça-feira, 23 de maio de 2017

COMO LIDERAR EMPRESAS FAMILIARES


“As empresas familiares são “a mais comum forma organizacional à volta do mundo”. Constituem a forma organizacional primordial. Representam, segundo a International Finance Corporation, “a espinha dorsal e o principal estímulo do desenvolvimento de muitas, se não da maioria, das economias”. As famílias, o alicerce fundador dessas empresas, também são entidades potencialmente maravilhosas para os humanos.

Exceto quando não são. Todos sabemos como, em algumas famílias, se geram ódios, traições, vinganças, e até mesmo crimes de sangue. Na base dessas adversidades estão frequentemente partilhas, heranças, amores e desamores”. Assim começa o livro COMO LIDERAR

EMPRESAS FAMILIARES- Aprenda a dominar a força (e a evitar o lado negro) dos negócios em família de Miguel Pina e Cunha, Arménio Rego, Alexandre Dias da Cunha e Filipe S. Fernandes que a Lua de Papel acaba de editar.

quinta-feira, 11 de maio de 2017

Jorge de Mello, o homem que gostava de empresas II


Troca o Técnico pelo ISEG

Jovem sóbrio, amante do ténis, futebol e tiro, tendo sido campeão nacional desta modalidade, jogador de hóquei em patins, Jorge de Mello recordava as sessões de cinema no cinema Eden, de que eram proprietários que o avô lhe proporcionava. Nas férias fazia viagens pela Europa nos navios das empresas do Grupo. E por desejo e insistência do seu avô, ingressou no Instituto Superior Técnico, depois de completar o secundário no Colégio Infante Sagres. Mas após a morte de Alfredo da Silva em 1942, Jorge de Mello abraçou a sua vocação. Depois de terminar o serviço militar, em 1945, casou-se com Maria Eugénia Mendonça e Menezes e inscreveu-se no Instituto de Ciências Económicas e Financeiras (actual ISEG). Como explicou era a sua vocação por teve “sempre mais interesse pelos aspectos financeiros”, “pelas análises de projectos” até porque os engenheiros, “sobretudo os mais brilhantes, têm pouca sensibilidade para os custos, acham sempre que é preciso pagar o que tiver de ser para se ter a melhor solução técnica”.

O pai, Manuel de Mello (1895-1966), foi uma espécie de regente do interregno entre a morte do rei, Alfredo da Silva, em 22 de Agosto de 1942, e a ascensão dos príncipes, Jorge e José de Mello, no fim dos anos 40, por isso foi quase sempre subestimado. Trabalhou 23 anos com o sogro, Alfredo da Silva, que aliás lhe fizera prometer que ao casar com a filha, Amélia Oliveira da Silva (1895-1958), se casava com a CUF. O seu papel teria de ser secundário pois o seu tempo de acção seria curto, e a sua doença fez com que esse tempo se abreviasse. No entanto, se não teve o sortilégio dos empreendedores nem a aura do génio, trouxe a previsibilidade do planeamento, a prudência dos organizadores. Manuel de Mello foi sobretudo o “renovador prudente”, como lhe chamou o primeiro número da revista interna da Lisnave em Janeiro de 1966.

Devido à doença do pai, Jorge de Mello, que começou nos adubos, em 1947 já era administrador, sempre gostou de fábricas, por isso preferiu manter-se à frente da Sociedade Geral, da CUF e da Tabaqueira. Por isso interrompeu o curso que terminou em meados dos anos 50. José Manuel foi o banqueiro da família, mas a paixão pelo mar levou-o a ser o principal responsável pelos estaleiros navais da Lisnave.

Quando no fim da 2ª Guerra Mundial, Portugal recusou o Plano Marshall, mas mitigou a visão agrarista do desenvolvimento e abriu-se aos projectos dos denominados industrialistas, que gizaram uma estratégia de industrialização autárcica e administrativa. O Grupo Cuf era então, pelos capitais e pelas competências, um dos mais vocacionados para aproveitar as oportunidades de desenvolvimento. Até porque diria mais tarde Jorge de Mello, “o problema da economia portuguesa, então como agora, é a falta de protagonistas empresariais que possam dar conteúdo a essa selecção competitiva, pois nenhum mercado pode ser eficiente se não tiver um número suficiente de empresas para que possa existir competição entre elas. Candidatos a apoios há sempre muitos, mas empresários eficientes há poucos”.

Na altura a base industrial da CUF (que também tinha companhias de navegação, estaleiro naval em Lisboa, uma casa bancária e um seguradora) distribuía-se por três núcleos principais: o processamento das pirites do Alentejo para a produção de ácido sulfúrico, base da indústria dos adubos e dos sulfatos, completada pela metalurgia dos não ferrosos, e pela participação no capital da Companhia Portuguesa do Cobre; o processamento de matérias-primas oriundas de África, nomeadamente das oleaginosas e das fibras duras, a partir das quais o grupo obtinha óleos alimentares, produtos de saboaria, sacaria, cordoaria e tapeçaria; e o fabrico do tabaco.

Apesar do proteccionismo e das actividades protegidas pela concorrência, a Cuf deu alguns passos mais inovadores. Como recordava Jorge de Mello, tanto ele como o seu irmão José Manuel, compreenderam, assim que tomaram as rédeas do grupo, que a CUF era “já uma empresa complexa, cobrindo vários sectores de actividade e exigindo uma gestão profissionalizada”. Por isso decidiram começar a fazer o recrutamento de quadros nas universidades de engenharia e economia pois seriam estes “os quadros técnicos da renovação” e que deram origem á denominada tecnoestrutura da CUF. Tal como se sistematizou o “espírito CUF”, definido por Jorge de Mello a 16 de Julho de 1955, numa cerimónia realizada para homenagear os trabalhadores da CUF com mais de 40 anos de serviço, como sendo “não só possuir vontade de acertar, dedicação e amor ao trabalho, desejo de prosperidade para a sua empresa e elevado espírito de sacrifício. Significa tudo isto e ainda: vibrar com as diferentes fases que a nossa organização vai atravessando; a satisfação quando as coisas correm bem; o pesar quando correm mal; viver como se suas fossem as alegrias, as tristezas, as desilusões da empresa; lutar pelos seus objectivos e ideais como se fossem próprios”.

Nesta década, a vida pessoal de Jorge de Mello também se alterara e, se os dez filhos (uma faleceu pouco depois do nascimento) nasceram todos em Lisboa, o empresário preferia Sintra para viver. Em 1958 comprou a quinta de Ribafria na Várzea de Sintra, que pertencia ao pai e aos tios, e para onde a família se mudou em 1961. Adquiriu também a herdade do Peral no Alentejo onde podia dar vazão à sua paixão pela caça, pois era um exímio atirador. É por esta época que numa carta a António Oliveira Salazar, de 19 de fevereiro de 1959, Jorge de Mello se define como empresário e gestor: “há quem me atribua feitio demasiado dinâmico, arrebatado e voluntarioso em excesso, só porque luto firme e tenazmente para que a organização interna da União Fabril e das empresas suas afiliadas, onde trabalham mais de 20 mil pessoas, não enverede por tendências ou jeitos burocráticos (sempre de recear em grandes organizações”.

Parte do texto Publicado no Jornal de Negócios, suplemento Weekend, de 15 de novembro de 2013

sexta-feira, 28 de abril de 2017

Jorge de Mello, o homem que gostava de empresas I    




No sábado, 9 de novembro de 2013, morria no Hospital Infante Santo, da CUF Saúde, Jorge de Mello, tinha 92 anos. O presidente da República descreveu-o como uma “figura marcante no desenvolvimento industrial português no século XX”. Mas a sua paixão foi a gestão e a criação de empresas.

Fleumático, de pose aristocrática, rosto sisudo mas olhos irónicos, mostrava atenção pelo interlocutor e deixava irromper sempre um humor inteligente. Há várias histórias que o mostram. Certa vez, Ferreira Dias, então ministro da Economia, falava no Conselho Superior da Indústria e defendia a indústria siderúrgica em Portugal usando um dos seus argumentos: “um país sem siderurgia é uma horta”. Jorge de Mello ouviu e retorquiu: “então a Suíça é uma horta”. Quando Américo Amorim lhe comprou a herdade do Peral terá mencionado o facto de ser o homem mais rico de Portugal. Jorge de Mello respondeu: “eu também já fui”. Não esqueceu as afrontas que sofreu, mas não sofria de nostalgia do paraíso perdido. Disse várias vezes: “poderia dizer que cheguei onde queria, mas não digo; também nunca se chega, há sempre qualquer coisa para fazer”. Parafraseando o avô, Alfredo da Silva, Jorge de Mello tinha uma costela Mello, que era “gente séria, de palavra”, uma costela Mayer, judia, “com jeito para o negócio e dada às artes, que sabem viver e são boa companhia”, uma costela Silva, “gente de trabalho, que faz coisas e não sabe estar parada”, e uma costela Oliveira, “que tem o talento da fantasia (…)o que te vai ajudar a adaptares-te a tudo”.

Jorge Augusto Caetano da Silva José de Mello nasceu em Sintra, na Casa do Pombal, comprada pelo avô, a 1 de Setembro de 1921. Era o segundo filho pois Maria Cristina, que viria a casar com António Champalimaud, nascera um ano antes, tendo o terceiro filho, Maria Amélia, nascido em 1922. Portanto naqueles tempos conturbados da República, Jorge era o primogénito, o futuro líder do império. Tinha poucos meses de vida, quando, na sequência da noite sangrenta de 19 de Outubro de 1921, o avô Alfredo da Silva saiu do país. Repartiu o seu maior período de exílio entre Espanha e França, de onde continuou a gerir os seus negócios. A infância de Jorge de Mello foi passada entre Portugal e o estrangeiro. Alfredo da Silva só voltou em 1927, na sequência do golpe militar de 28 de Maio de 1926, que iria estar na base da implantação do Estado Novo. Instalou-se então definitivamente em Portugal, tal como a sua família. A 8 de Dezembro de 1927 nasceu José Manuel de Mello. Viveram a sua infância entre a Casa do Pombal em Sintra e casa no Monte Estoril, um palacete de estilo D. João V do avô Alfredo da Silva, e a Quinta da Riba Fria do pai.

Jorge de Mello afirma que “o meu avô Alfredo da Silva e os meus pais tiveram enorme influência na maneira de ser dos meus irmãos e minha. (...) A nossa educação foi muito germânica, não quero chegar ao exagero de dizer que foi espartana”. Sublinhando que “a influência do meu avô não poderia deixar de ser muito forte e por efeito da sua personalidade, muito afirmativo, muito determinado, com grande confiança em si próprio mas, ao mesmo tempo, muito afectivo, empenhado em transmitir aos netos um quadro de valores e responsabilidades muito nítido, assente nos valores da honra, da justiça e da capacidade de realização”.

Parte do texto Publicado no Jornal de Negócios, suplemento Weekend, de 15 de novembro de 2013

Made In Portugal- Os Exportadores Portugueses, o livro

A notícia da morte da indústria do calçado foi claramente exagerada. O turismo soma e segue. Estes e outros sectores tornaram o Made em Portugal um trunfo: o peso das exportações no PIB cresceu 10 % em 7 anos. Contudo, os portugueses não conhecem esta história de sucesso. Que rostos estão por detrás das empresas que levam a marca Portugal aos cinco continentes? Que produtos são o novo el dorado da exportação e o que mudou na sua composição? Made In Portugal- Os Exportadores Portugueses de Filipe S. Fernandes tenta responder